O trabalho possui, como elemento central, uma mulher nua (nudez quase toda censurada). Existe ali um "tentar se levantar", com uma pose contida, cabeça abaixada, e cabelo preso.
Três figuras de animais selvagens são vistas acima da mulher, como se estivessem afastando-se dela. Estas figuras, no quadro decorativo, são apresentadas como estando inseridas em uma espécie de "aura", ou energia. Um pouco dessa "aura" ainda está remanescente na mulher, apesar de quase toda essa energia se encontrar fora, junto com os animais, indo na direção contrária da figura feminina.
Na verdade, esta mulher não consegue se erguer porque perdeu sua força motriz. E essa força está na energia dos animais selvagens que seguem escapando dela. A figura humana está sem recursos, pois sua principal fonte se foi. O "elo" que mais a fortalecia se rompeu.
Abandonar o espírito selvagem existente na humanidade é enfraquecer o universo humano. Quando o homem se afasta daquilo que está no mais íntimo de seu ser, ele perde sua energia vital e não consegue se erguer.
O "elo perdido" é um quadro decorativo de madeira que nos faz refletir sobre a perda da verdadeira humanidade. É fácil perceber como a humanidade hoje está fraca e sem poder, sucumbindo facilmente a uma estrutura artificial predatória e impiedosa. Essa falta de potência, no entalhe, está simbolizada na quebra da conexão energética entre a figura humana e as figuras animais. Sem essa "essência animal" será mais difícil conseguirmos nos reerguer, e, infelizmente, continuaremos fracos diante daquilo que vem nos fazendo perder a humanidade.
O "universo humano sem humanidade" que nos circunda é o retrato dessa mulher da peça, um ser sem força pra se erguer, cabeça baixa, de postura contida, e cabelo "aprisionado", onde sua sensação de liberdade (exprimida na nudez da mulher) só pode ser mostrada de forma censurada (vagina escondida e seios pouco mostrados). Nós somos e podemos ser muito mais do que isso, desde que o homem possa se reconectar com aquilo que realmente faz parte da natureza humana. Isso nos mostra, mais uma vez, quão complexa é a relação indispensável, inevitável e importante entre o ser humano e o mundo selvagem.